quarta-feira, outubro 25, 2017

10 minutos de leitura: APRENDER A LER PARA APRENDER A PENSAR

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A escola preparou-o para ler propaganda.
Uma vez que Pinóquio não aprendeu a ler em profundidade, a entrar num livro e a explorá-lo até aos seus limites, ignorará sempre que as suas aventuras têm fortes raízes literárias.
Não vendo os livros como fontes de revelação, estes nunca lhe irão devolver a sua própria experiência reflectida. A única coisa que pode fazer é recitar, como um papagaio, o texto do manual. Assimila as palavras que estão na página, mas não as digere: os livros não passam a ser verdadeiramente seus, porque ele, no final das suas aventuras, continua incapaz de os aplicar à sua experiência. A aprendizagem do alfabeto leva-o, no último capítulo, a assumir uma identidade humana e a olhar o boneco que foi, com satisfação.
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Para questionar o funcionamento da sociedade, necessitamos de aprender a ler de outra maneira, de forma diferente, que nos permita aprender a pensar.
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Educar é um processo lento e difícil, dois adjectivos que na nossa época se converteram em defeitos em vez de elogios. Hoje em dia, parece quase impossível reconhecer os méritos da lentidão e do esforço deliberado. Na verdade, Pinóquio só pode aprender a ler se não tiver pressa e só se converterá num indivíduo pleno através do esforço requerido para aprender. Quer seja na época de Collodi, com os textos que os alunos repetem como papagaios, quer na nossa, com grande quantidade de informação, é bastante fácil ser superficialmente letrado, seguir uma comédia televisiva, entender a mensagem de um anúncio publicitário, ler um slogan ou usar um computador. Mas para chegar mais longe e de uma forma mais profunda, para ter a coragem de enfrentar medos, dúvidas e segredos ocultos, para questionar o funcionamento da sociedade, necessitamos de aprender a ler de outra maneira, de forma diferente, que nos permita aprender a pensar. Talvez Pinóquio se converta num rapaz no final das suas aventuras, mas a verdade é que continuará a pensar como um boneco."

Como Pinóquio aprendeu a ler, de Alberto Manguel




























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