segunda-feira, junho 22, 2020

Ler a pé - 1º prémio de Escrita Criativa

Eu tinha acordado, estava a ser um dia como todos os outros e, como sempre, acordei atrasado para o trabalho. Assim que cheguei tinha uma grande parte dos meus colegas a reclamar que o chefe queria falar comigo quanto antes. Subi pelo elevador e, a cada segundo que passava, mais nervoso ficava. Será que vou ser demitido? Arranjaram alguém melhor que eu? - estava eu a pensar. Os meus atrasos já eram uma rotina diária e todos diziam que qualquer dia iria ter as consequências.
O meu chefe, Luís Silva, abriu-me a porta bastante sorridente, tudo menos o que eu esperava. Começou a dizer que tinha uma proposta para mim e da qual poderia depender o meu emprego.
- É bastante simples, Tiago, vais a uma escola do Seixal e vais falar com uma aluna chamada Catarina, do oitavo ano, turma A.
- Oitavo ano?! - exclamei – ou ela tem super poderes para ser reconhecida pelo senhor ou não sei.
- Deixa-me acabar de falar. Ela mandou um currículo para representar o projeto “Microsoft Teen”, lembras-te de te ter falado do projeto? Ela parece ser aquilo que nós procuramos. Para além de determinada, entende bastante de programação para a sua idade.
Imagem de https://commons.wikimedia.org/wiki/File:TIC-en-Educacion1.jpg

Enquanto passava pela ponte lembrei-me que a esteticista da minha rua, a melhor amiga de todas as mulheres, era desta zona e então mantive a minha mente calma e pensei positivamente. Pelo que me lembro, a escola de Catarina pareceu-me um pouco velha pois a tinta cor-de-rosa dos pavilhões estava a ficar branca e as portas já gritavam por óleo.
Quando entrei na sala B13 vi imensos miúdos e nenhum parecia ser a grande Catarina de que Luís falava. Fiz o meu discurso o mais claro possível e no final pedi para falar com a Catarina noutro local. Lembro-me da cara de espanto do resto dos alunos e começaram a gritar e a bater na mesa, pareciam animais! Quando pude olhar um pouco mais para ela, notei que os seus olhos negros naquele momento estavam a brilhar de alegria.
- Catarina, isto não é nenhuma brincadeira. Espero que sejas menina suficiente para representar um futuro projeto que, se tudo correr bem, terá muito sucesso.
E no momento em que ela começou a falar, caiu-me a ficha:
- Muito obrigada pela oportunidade! Tenho a certeza de que estou à altura deste projeto para levá-lo para a frente.
Ela era muito bem-educada e calma a falar. E para ser sincero, estava a fazer um discurso mais coerente que muitos colegas meus nas suas entrevistas de emprego.
- Então é bastante simples. Tal como fizeste no vídeo que mandaste à empresa, vais criar de novo um aplicativo da forma que quiseres. As únicas regras é que tem de ser para crianças entre os 10 e os 15 anos. Essa poderá ser a primeira aplicação do Microsoft Teen, se tudo correr bem.
Fomos para uma sala de TIC, eu sentei-me numa secretária ao lado da dela e informei que se ela precisasse de ajuda eu não a poderia dar pois isto era como um exame da escola. Ela determinada confessou:
- Tenho a certeza de que sozinha irei conseguir, pode ficar descansado e ver um filme na Netflix- e rimo-nos os dois.

Imagem de https://zh.m.wikipedia.org/wiki/File:Diary_of_Anne_Frank_28_sep_1942.jpg

Passou-se uma hora e meia e a aplicação já estava criada e com um logótipo atrativo. A “Ler a pé” tinha como objetivo os adolescentes andarem, por exemplo, 100 metros e só depois recebiam o capítulo seguinte. No meu caso, escolhi o livro Diário de Anne Frank, um dos livros favoritos da minha adolescência, e tive que andar 250 metros para receber mais 70 páginas e continuar a ler. Para além de poder vir a incentivar os adolescentes a ler mais diariamente, também é um aplicativo adequado a outras idades, como a idade adulta.
O Luís adorou a ideia e quis pô-la logo em prática quanto antes. Quis conhecer a grande artista e passado algum tempo ela já estava a ter algumas reuniões com ele (ela continua a ser uma adolescente e não merece ter a vida de adulto por isso até foram poucas reuniões).
Atualmente, ela irá ser a “trabalhadora do mês” pela quarta vez consecutiva e chegou a um nível de empenho e sucesso a que muitos ainda não chegaram e tenho muito prazer em trabalhar com ela e considerá-la uma amiga.

Sara Gonçalves, João Marquês, Yann Lima e João Horta 

(8ºA)

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